sábado, 8 de agosto de 2015

As estâncias jesuíticas




A Companhia de Jesus teve uma atuação notável no sul do Brasil, na área antigamente sob o domínio espanhol (1580-1640) que compreendia todo o oeste dos atuais estados meridionais. Ali se formou uma civilização à parte da brasileira, mas também baseada no sistema de aldeamentos de indígenas adotado pelos jesuítas portugueses em outras partes do Brasil, as Reduções ou Missões.

Em 1626, conforme conta Mário Maestri, jesuítas cruzaram o rio Uruguai e fundaram missões, a partir do noroeste do atual Rio Grande do Sul, sobretudo com populações guaranis. 

Em 1634, foram importados 1.500 bovinos para formar os rebanhos dos dezesseis povos do Tape. As reduções existentes  neste período foram destruídas pelos bandeirantes brasileiros e exploradores portugueses. Assaltados pelos paulistas escravizadores, em 1636-38, os índios missioneiros abandonaram o gado, fugindo para a outra banda do Uruguai. O rebanho multiplicou-se, atravessou os rios Jacuí-Ibicuí em direção ao sul, formou a enorme vacaria do Mar, entre o oceano e os rios Jacuí e Negro.  

Em 1682, os guaranis missioneiros retornaram ao atual Rio Grande do Sul para barrar o saque das vacarias dos pampas e o avanço lusitano. A abundância de gado na região e o desejo da coroa espanhola de assegurar a posse daquelas terras, em virtude da crescente presença portuguesa no sul podem ter motivado o retorno. Os Sete Povos das Missões foram fundados nesta derradeira onda colonizadora jesuíta na região. Neste mesmo ano, foi fundado o primeiro dos Sete Povos: São Francisco de Borja, seguido por São Nicolau, São Luiz Gonzaga e São Miguel. Diferente das demais reduções gaúchas, a redução de São Borja foi a única formada por índios da matriz étnica “charrua”.

As grandes estâncias missioneiras, delimitadas por rios, riachos, matas, serros, etc., como conta Mário Maestri, subdividiam-se em sedes e postos, com aldeias de dez a doze famílias, com suas capelas, currais, plantações, etc., povoadas por posteiros, que domesticavam e tratavam os animais nos rodeios e cuidavam para que não fugissem. 

No Planalto, estâncias menores, próximas aos Sete Povos, invernavam o gado trazido pela Boca do Monte [atual Santa Maria] e pelo Boqueirão [atual Santiago], para o consumo dos povos. A criação missioneira assumiu o caráter de produção pastoril extensiva que foi herdado pelas futuras estâncias luso-brasileira, disseminadas na Campanha, nas Missões, nos Campos Neutrais e no norte do atual Uruguai.

Na região de Cruz Alta, a maior parte das estâncias jesuíticas estava localizada no 2o Distrito, onde situaram-se também nossos ancestrais.

A região mais Meridional de Cruz Alta, compreendendo São Martinho (depois Júlio de Castilhos e Tupanciretã) e, ao Leste da Povoação de Cruz Alta (Cadeado), devido a presença de campos abertos, propícios para a criação, eram tomadas por inúmeras estâncias Jesuíticas.

Muitas fazendas, possessões de tropeiros paulistas e rio-grandenses, herdaram os nomes e antigas Estâncias Jesuíticas, ou de seus Postos, e até hoje os conservam. Já campos ao Norte e Leste tinham matas, ervais e começaram posteriormente a serem povoados.

A quase totalidade dos campos de Cruz Alta estava sob a jurisdição da Redução de São João Batista, sendo que os campos de SÃO JOÃO e SÃO MIGUEL, compreendiam boa parte do 2º distrito, segundo a primeira divisão da freguesia de Cruz Alta.

Dentro da estância de SÃO PEDRO ficavam os postos de São Miguel Mirim, Santo Inácio, Tupanciretã, Durasnais de São Martinho e São João. Pertencia, ainda, ao Povo de São João Batista os postos de Santa Maria (Tupanciretã) e São João Mirim; a ESTÂNCIA DA CONCEIÇÃO, com os postos de São Francisco Solano, São João de Deus, São Domingos e Santo Antônio; a ESTÂNCIA DE SÃO MIGUEL, com os postos de São Pedro, São Fabiano, Santo Isidro, São José Tujá, São João Mirim, Santo Inácio, Menino Jesus e Santo Antônio.

Dados obtidos em: http://www.genealogiacorrea.com.br/GENTROP7.pdf


Fonte: http://www.nhecuanos.com.br/arti.htm


A economia pastoril dos Sete Povos, fortemente apoiada na extração animal, constituiu a pré-história das estâncias sul-rio-grandenses. Ao final de seu texto, Mario Maestri destaca que a 
grande diferença entre as duas sociedades foi o caráter do trabalho e da propriedade da terra, coletivo nas missões guaranis, privado nas fazendas luso-brasileiras. Para que, após a ocupação militar lusitana das Missões, em 1801, as estâncias coletivas guaranis fossem melhor repartidas em sesmarias privadas, exploradas com o braço escravizado e assalariado, era necessário que desaparecesse na memória histórica regional aqueles longos e estranhos tempos em que as pampas e os gados eram de todos, e não apenas de alguns poucos.
Leia o texto de Mário Maestri na íntegra no link http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1382

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